Investigações do Gaeco revelaram que o prefeito de Terenos, Henrique Budke (PSDB) – preso na terça-feira por corrupção – comprava imóveis e empresas com dinheiro de propina. Tudo foi revelado pela Operação Spotless, que apura esquema de fraudes em licitações que somam R$ 15 milhões.
Conforme o relatório de investigação o qual o Jornal Midiamax teve acesso, Budke viu seu patrimônio declarado aumentar 691% entre as eleições de 2020 – a primeira que disputou – e as de 2024, a qual se reelegeu.
Os investigadores cruzaram dados e levantaram que Henrique teria recebido cerca de R$ 611 mil em propinas.
Para o Gaeco, ao menos três bens do prefeito foram declarados com valores muito inferiores ao que realmente valem.
Exemplo citado na investigação é a Fazenda Ipê Amarelo, de 161 hectares, em Aquidauana, que ele declarou valer R$ 1,5 milhão – pago à vista -. No entanto, o valor de mercado da propriedade seria de R$ 4.356,017,67.
Para os investigadores, o enriquecimento vivenciado pelo prefeito era incompatível com suas funções. Assim, o Gaeco conclui que os valores recebidos como propina foram usados para aumentar o patrimônio de Henrique.
Além disso, ele também investiu em empresas como, por exemplo, a Resilix Ltda, que ele declarou ter participação de apenas R$ 1 mil pela participação societária de 33%. “Parece ter recebido valores ilícitos, pois sofreu uma alteração exponencial em seu capital social“, diz o documento.
Logo, os investigadores descobriram que o capital social da empresa atingiu R$ 2.237,700,00. Ou seja, Budke seria dono de R$ 745,9 mil da empresa – e não de apenas R$ 1 mil como informado anteriormente -.
“Somado o valor real de marcado, o montante dos bens alcançaria em 2024 o montante real de R$ 6.141.948,18, o que indicaria crescimento de 691% em relação ao que foi declarado na eleição de 2020“, destaca outro trecho da investigação.
O prefeito foi preso durante a operação Spotless, junto com um policial militar do Choque, o terceiro-sargento Fábio André Hoffmeister Ramires. Além deles, outras 10 pessoas foram presas: Arnaldo Santiago, Sansão Inácio Rezende, Nadia Mendonça Lopes, Orlei Figueiredo Lopes, Genilton da Silva Moreira, Eduardo Schoier, Fernando Seiji Alves Kurose, Henrique Wancura Budke, Hander Luiz Corrêa Chaves, Fábio André Hoffmeister Ramires, Sandro José Bortoloto e Valdecir Batista Alves.
Henrique Budke é apontado como líder da organização criminosa que desviou mais de R$ 15 milhões dos cofres públicos, segundo a investigação.
A prisão do 3º Sargento do Choque, Fábio André Hoffmeister Ramires, está entre os presos junto com o prefeito.
Conforme apurado pela reportagem, Hoffmeister também é iniciado na maçonaria, na mesma loja maçônica frequentada pelo prefeito e outros presos e investigados.
A prisão do sargento se deu por mandado de prisão preventiva assinado pelo desembargador Jairo Roberto de Quadros. A acusação é financiar, constituir ou integrar organização criminosa.
Conforme informações públicas oficiais, Fábio entrou nos quadros da PM como aluno-bolsista, em outubro de 2008. Atualmente, tem remuneração de R$ 9.319,13, conforme o Portal Transparência do Governo de MS.
No entanto, mesmo concursado e exercendo suas funções na PM, a reportagem encontrou publicações no Diário Oficial do Estado, de outubro de 2021, em que ele assina ordem de execução de serviços em nome da Tercam.
Na ocasião, o PM Fábio responde pela Tercam para o início das obras de reforma na EE. Indígena de EM Professor Domingos Veríssimo Marcos. A empresa do casal recebeu R$ 248.798,54 pelo serviço. Aliás, o contrato foi assinado pelo então secretário de educação, Édio Antonio Resende de Castro, que chegou a ser preso por corrupção, no contexto da Operação Turn Off.
Henrique Budke é apontado como líder da organização criminosa que desviou mais de R$ 15 milhões dos cofres públicos, segundo a investigação.
A investigação apontou que o grupo liderado por Budke tinha núcleos com atuação bem definida. Servidores públicos fraudaram disputa em licitações, a fim de direcionar o resultado para favorecer empresas.
Os editais foram elaborados sob medida e simulavam competição legítima. Somente no último ano, as fraudes ultrapassaram os R$ 15 milhões.
O esquema ainda pagava propina para agentes públicos que atestavam falsamente o recebimento de produtos e de serviços, bem como aceleravam os processos internos para pagamentos de contratos.
A Operação Spotless foi deflagrada a partir das provas da Operação Velatus, que foi realizada em agosto de 2024. O Gaeco e Gecoc obtiveram autorização da Justiça e confirmaram que Henrique Budke chefiava o esquema de corrupção.
Spotless é uma referência à necessidade de os processos de contratação da administração pública serem realizados sem manchas ou máculas.
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