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Ex-Comandante da PM em Jardim recebia R$ 30 mil por mês da máfia do cigarro paraguaio

16/07/2018 às 10h01
Por: Tribuna Popular
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scutas telefônicas e mensagens localizadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e Corregedoria da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, revelam detalhes do quanto os policias presos na Operação Oiketipus cobravam de propina para liberar o contrabando de cigarro no estado.






Os valores variavam de acordo com a patente dos policiais. Soldados, cabos e sargentos recebiam entre R$ 500 e R$ 3 mil por semana. Oficiais comandantes chegavam a receber R$ 30 mil mensais para fazer parte do esquema criminoso.





De acordo com a investigação, o quartel da PM na cidade de Jardim (MS) era uma uma espécie de escritório dos policiais corruptos. Durante dois anos o tenente coronel Admilson Cristaldo foi o comandante do Batalhão da PM na cidade.





Da sala que ocupava no prédio, Cristaldo alterava as escalas das patrulhas e tirava os policiais das rotas por onde iriam passar os caminhões de cigarros. Além disso, ele mantinha contato com comandantes de outros batalhões, em outras cidades, que também faziam parte do esquema, e que também foram presos.





Apesar de ter um salário em torno de R$ 17 mil, o tenente coronel Admilson Cristaldo ostentava riqueza. Durante as Olimpíadas do Rio, ele passou um fim de semana em um hotel 5 estrelas de Copacabana, e pagou R$ 7.998,00 pelas diárias. Gastou mais de R$ 25 mil em uma loja de grife em um shopping de São Paulo.





Admilson Cristaldo adquiriu uma banheira de hidromassagem por R$ 28 mil, e quase R$ 80 mil em uma moto que usou para viajar de Campo Grande até os Estados Unidos, em janeiro. O pagamento era sempre feito em dinheiro vivo, e à vista. O tenente-coronel chegou a descobrir que estava sendo monitorado. Mas já era tarde.






Escuta telefônica





Segundo a investigação, a escuta telefônica é um diálogo entre Admilson Cristaldo e outro policial. Ele mostra preocupação ao saber que o esquema foi descoberto.





Admilson: “Me passou informação depois de três meses, depois que já tava tudo grosso, depois que os caras já tinham me grampeado, me f... tudo...”





De acordo com o Gaeco, entre 2014 e 2016, dois anos antes de Cristaldo assumir o comando do Batalhão de Jardim, a região do Boqueirão, subordinada a ele, teve 63 apreensões de contrabando. Nos dois anos sob o comando do militar, os policiais daárea fizeram apenas 15 flagrantes.





O tenente-coronel Luciano Espíndola da Silva, que chefiava o Batalhão de Bonito (MS), e o major Oscar Leite Ribeiro, ex-subcomandante em Bela Vista (MS), também foram presos. Admilson Cristaldo teria indicado os dois comparsas para os comandos regionais da polícia.





O promotor do Gaeco, Tiago Giulio Freire, disse que policiais afirmaram, em depoimento, que estavam muito incomodados com a postura dos colegas. De acordo com o promotor, os militares se sentiam pressionados a aderirem ao esquema ou a pedirem transferência. Muitos cogitaram a baixa da corporação em razão do grau de corrupção que estava envolvendo a Polícia Militar em algumas localidades.






O esquema





Segundo a coordenadora do Gaeco, Cristiane Mourão, quando ocorria algum tipo de fiscalização, os envolvidos no esquema intervinham diretamente para que aquela ocorrência não fosse registrada e a carga fosse liberada.





Em uma escuta telefônica autorizada pela justiça, dois contrabandistas, identificados como Djalma e Afonso, reclamam que os policias estavam pedindo muito dinheiro.





Djalma: “(...) os caras estavam pedindo propina muito alta né, 150 mil reais pra passar carreta isso e aquilo né (...) também envolvido comandante tudo né, entendeu.”





Afonso: “Uhum”





Djalma: “mas, deu uma quedinha, mas fazer o que, né seu Afonso?.”





Afonso: “Daqui uns dia melhora de novo aií”.





Segundo o corregedor-geral da Polícia Militar de MS, Edmilson Lopes, durante a operação foram apreendidos documentos e outros materiais. “Em razão da apuração desses fatos novos, podem surgir novas prisões e podem também ser verificados que há participação de outros policiais”, revelou o corregedor.





A investigação descobriu que o esquema de corrupção passou bem perto da maior autoridade do Estado. O terceiro-sargento Ricardo Campos Figueiredo, que trabalhava como motorista do governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, também foi preso.





Quando a polícia chegou à casa dele com um mandado de busca e preensão, Ricardo se trancou no banheiro e destruiu dois celulares. Acabou preso por obstrução de justiça. Ele era investigado há um ano, período em que continuou trabalhando no governo. Depois da prisão, Ricardo foi exonerado.






Rota do cigarro





As rotas do cigarro clandestino saem do Paraguai e entram no Brasil por cidades como Sete Quedas, Bela Vista, Ponta Porã e Porto Murtinho. Três em cada quatro maços de cigarro paraguaio entram no país pelas estradas de Mato Grosso do Sul.





Segundo Luciano Barros, presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras, esse produto tem uma logística e um caminho a ser percorrido. Luciano explica que o estado deve pensar estrategicamente não só como vigilância, mas também com infraestrutura para combater o crime.





Para o especialista em segurança pública Edgar Marcon, o caminho por onde passa o contrabando tem muito valor para os criminosos. “Quando se fala em rota, é preciso deixar claro que não é o trajeto físico e sim os acertos que estão ao longo daquela rota, pois em todas as rodovias existem fiscalizações. O valor da rota está justamente no acerto que já existe no percurso”, explicou.






Crime





No Brasil, os cigarros clandestinos já representam 48% do mercado e, só no Rio de Janeiro, eles movimentaram R$ 1 bilhão no ano de 2017. De acordo com o superintende da Polícia Federal de Mato Grosso do Sul, Luciano Flores, o lucro dos cigarros é uma das principais fontes de renda de facções criminosas que hoje estão assombrando várias regiões do país.





Ainda de acordo com a PF, é por meio do lucro que as facções conseguem financiar mais armas, mais munições e mais drogas.





Um dos fatores que incentivam os criminosos é a diferença entre as penas. Enquanto a pena máxima para o tráfico de drogas chega a 15 anos de prisão, e a de tráfico de armas no máximo oito anos, a pena para o contrabando chega só até cinco anos de detenção. Como no Brasil penas de até quatro anos são cumpridas em regime aberto, raramente um contrabandista permanece preso, mesmo se for condenado.







No ano passado a Receita Federal de Mato Grosso do Sul destruiu R$ 1 bilhão em cigarros apreendidos no estado. Hoje, no pátio da Receita em Ponta Porã, fronteira com o Paraguai, 15 carretas lotadas de cigarro aguardam para terem suas cargas destruídas.


*G1




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