A premissa básica do filme O Quarto de Jack provoca receio e até aversão. Uma mulher é mantida em cativeiro em um minúsculo quarto, onde ela vive sozinha com seu filho, Jack, de 5 anos de idade. Porém, o drama que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, indicado a quatro estatuetas do Oscar, entre elas de melhor filme, é de uma sensibilidade tão intensa que toda sensação de pânico acaba substituída pela beleza do relacionamento entre mãe e filho - e também pela pureza do olhar infantil.
O resultado é encantador e dramático ao mesmo tempo. Culpa primeiramente da dupla principal de atores. Brie Larson, favorita ao Oscar de melhor atriz, e o pequeno Jacob Tremblay formam um elenco tão conciso e firme que os demais personagens se tornam apenas pequenas interferências complementares ao roteiro. Tremblay, em uma atuação exemplar, interpreta o personagem do título e é o narrador da história. Tudo que chega ao espectador passa antes pela inocente percepção do pequeno, que acredita ser o quarto em que nasceu o único lugar do mundo.
Jack não conhece o "lá fora" e sua mãe tenta fazer do local de cerca de 3 por 3 metros um ambiente de felicidade alienante para o filho. Tom parecido com A Vida É Bela (1997), quando o personagem de Roberto Benigni faz seu herdeiro pensar que o campo de concentração é uma espécie de brincadeira entre adultos.
Outro culpado por fazer de O Quarto de Jack uma das produções mais bonitas desta temporada de premiações é o diretor irlandês Lenny Abrahamson (do diferentão filme Jack), que conseguiu conduzir uma trama forte, mas sem excessos. Abrahamson adaptou a história do livro Quarto, escrito pela também irlandesa Emma Donoghue. Emma por sua vez se inspirou na história real de uma mulher mantida presa pelo próprio pai durante 24 anos, na Áustria, com quem ela teve seis filhos.
O cineasta dividiu a trama em duas partes. Na primeira, os personagens e a situação são apresentados em conta-gotas. Em seguida, a verdade explode e serve de interlúdio para a segunda parte, fora do quarto, na qual o espectador torce para que a pequena família consiga, de algum modo, superar o trauma e ter um final feliz.
Contar qualquer coisa além disso sobre o filme seria de mau gosto. O roteiro é desvendado de forma homeopática, com detalhes sutis que surgem em uma fala, um olhar, ou em diálogos intensos aos gritos dos dois protagonistas. Assim como outros concorrentes da categoria principal do Oscar, caso de O Regresso, Mad Max e Perdido em Marte, O Quarto de Jack também é um filme sobre sobrevivência. Porém, aqui, os personagens lutam para manter viva a sanidade, dentro e fora do claustrofóbico quarto.
(Fonte: Veja.com)
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