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Sem sustos desonestos, ‘A Bruxa’ aterroriza pela tensão

03/03/2016 às 15h44
Por: Tribuna Popular
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O terror é um dos gêneros mais fecundos do cinema. Uns são bons, outros nem tanto. E não são poucos os que lançam mão de um artifício comum ao estilo: protagonistas atônitos e indefesos que andam cabreiros por um corredor escuro até serem assustados - junto com o espectador - por um demônio ou assombração. Isso não acontece em A Bruxa, que chega nesta quinta-feira aos cinemas brasileiros. O longa troca o susto desonesto pela tensão, obtida com altas doses de suspense. Os clichês dos terrores em geral são substituídos por uma trama histórica, que se passa nos Estados Unidos do século XVII, e que inova com pouco esforço, mas muita criatividade.

A trama começa com uma família sendo banida do condado onde mora, por conflitos religiosos, já que o pai William (Ralph Ineson) enfrenta a comunidade por possuir interpretações ardilosas do evangelho. O casal com seus cinco filhos partem em busca de um terreno para viver. Após se assentarem em uma clareira no meio da floresta, a filha mais velha, Thomasin (Anya Taylor-Joy), vai com o caçula Samuel, um bebê recém-nascido, para perto das árvores. Em um rápido momento de brincadeira, o irmão some de forma misteriosa. Ela não vê, mas o espectador no cinema sabe que o pequeno foi levado por uma figura encapada mata adentro.

Com o desaparecimento, a mãe, Katherine (Kate Dickie), passa a rezar dia e noite pelo filho perdido, com medo de que ele tenha ido para o inferno, pois ainda não havia sido batizado. É na fé, inclusive, que a família se apoia para vencer o terror que passa a rondar a casa - e mais tarde, é também a crença algo a ser questionada. A situação angustiante desgraça a vida da família, deixando os laços entre seus membros cada vez mais frágeis e evidenciando as falhas e hipocrisias individuais de cada um. A situação delicada é a brecha para o mal que os ronda.

No pano de fundo, uma interessante visão histórica. A produção se apoiou em documentos e registros americanos sobre bruxaria da época retratada, quando mulheres eram levadas à fogueira acusadas de feitiçaria. Até mesmo alguns trechos de diálogos do filme foram retirados na íntegra do material estudado.

Outro ponto alto da produção é como o foco da trama transita. Por horas, o centro da história parece a bela Thomasin, perturbada por ser considerada a culpada pelo desaparecimento do bebê. Porém Caleb (Harvey Scrimshaw), o segundo filho, também tem seus momentos de protagonismo frente às assombrações, assim como os enigmáticos gêmeos mais novos: Mercy (Ellie Grainger) e Jonas (Lucas Dawson), com sua estranha relação com o bode da família. O foco transitório deixa o público apreensivo e tenso sobre quem é o verdadeiro alvo - se é que ele existe - e qual o real objetivo da bruxa. A estratégia alcança o resultado desejado por conta da ótima atuação de todo o elenco, extremamente entrosado.

A bruxa, como é de se esperar, é o centro de todo o pavor, mas o diretor Robert Eggers deixa a personagem escondida durante a maior parte do tempo. Esse talvez seja o maior trunfo do longa, que amedronta não com a presença da criatura, mas sim com a expectativa e tensão que tomam conta do filme, dando a sensação de que a qualquer momento a feiticeira pode aparecer causando algo terrível. Para isso, o cineasta utiliza técnicas eficientes, com takes longos e sombrios acompanhados de uma tétrica trilha sonora, o que causa calafrios e deixa o público vidrado.

É de se elogiar o trabalho de Eggers, que também foi o responsável pelo roteiro. É verdade que, apesar de começar tensa, a produção tem seus momentos monótonos, mas o desfecho, com cenas perturbadoras e assustadoras, coroa uma sólida estreia do cineasta em longas, que rendeu a ele um prêmio de direção em Sundance no ano passado.

https://youtu.be/PoMYYUHn46E

 

(Fonte: Veja.com)

 

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