Quem se aventurou na leitura da trilogia Divergente, assinada por Veronica Roth, sabe como poucos as dores e alegrias de se envolver com uma história. A autora de 27 anos criou um cenário instigante, deu poder a mulheres na política e apostou em reviravoltas bastante ousadas para uma história destinada a jovens. Porém, sua escrita é arrastada e repetitiva, e a trama como um todo passa longe de ser criativa. Quem começa o primeiro livro, segue para o outro com dificuldade, mas tende a continuar. Quase uma síndrome de Estocolmo. No cinema, tal comportamento se repete.
Os dois primeiros filmes da série, Divergente (2014) e Insurgente (2015), acompanham a vida da protagonista Tris (Shailene Woodley) em uma sociedade dividida por facções. Cada jovem passa por um teste por volta dos 16 anos, que definirá qual seu lugar na cidade. Os que não se encaixam em lugar nenhum, acabam marginalizados. Uma guerra entre os grupos culminou no fim do segundo filme: a vilã Jeanine (Kate Winslet) morre; a mãe do mocinho Quatro (Theo James), Evelyn (Naomi Watts), se torna a nova dona do pedaço; e Tris descobre que, na verdade, Chicago, onde eles vivem, é palco de um experimento científico - e que existem outras cidades para além dos muros que cercam o local.
É a partir daí que começa o terceiro e penúltimo filme, A Série Divergente - Convergente, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira. Quem sobreviveu até este momento é impedido de deixar a cidade, já que Evelyn fecha os acessos aos muros. Tão ditatorial quanto Jeanine, ela promove execuções de pessoas consideradas traidoras em julgamentos questionáveis e impõe um sistema que desagrada Tris, Quatro e especialmente Johanna (Octavia Spencer), antiga líder da facção Amizade. Ela se afasta de Evelyn e monta um pequeno exército para combatê-la.
Enquanto isso, o casal protagonista salva do julgamento Caleb (Ansel Elgort), irmão de Tris, com a ajuda de Christina (Zoe Kravitz) e Peter (Miles Teller). Eles fogem em direção ao muro e, em uma longa sequência de perseguição, conseguem escapar e encontrar outras pessoas.
A história então muda completamente seu rumo. Se antes o foco era a competição política e a discussão sobre identidade, agora os personagens se descobrem parte de um estranho experimento. Resumindo, em um passado distante, a manipulação genética fez com que pessoas acentuassem algumas características e suprimissem outras. As diferenças gritantes entre os grupos culminaram em uma guerra nuclear. Boa parte do mundo foi destruída.
Os chamados "Puros", pessoas sem manipulação genética, se aglomeraram em centros de alta-tecnologia. À distância, eles passam a observar comunidades fechadas, onde os "Danificados", pessoas com genes alterados, são administrados em um gigantesco reality show. Quando a genética se encarregar de voltar ao estado normal, com as gerações por vir, estas pessoas seriam liberadas para uma vida no mundo real. A central que cuida de Chicago é dirigida pelo ambíguo David (Jeff Daniels).
Para essa mudança de ares, o diretor Robert Schwentke (Red) aposta nos exageros da ficção científica, com tecnologias extremamente avançadas em alguns objetos e cenários, enquanto a grande massa de pessoas vive em galpões feios e compartilhados, com cara de alojamento militar.
A quebra na trama dificulta a associação da verossimilhança. As novidades transformam a história em outra. E até a empatia pelos personagens sofre uma queda. Para compensar os pontos fracos, a saga aposta desde o início em um elenco forte e estrelado. A começar pelas celebradas Kate Winslet, Octavia Spencer e Naomi Watts. Jeff Daniels chega para completar o grupo de adultos, enquanto os jovens são bem representados pelas apostas do momento Miles Teller, Ansel Elgort e Shailene Woodley. Eles fazem o que podem para manter a trama em alta.
Contudo, o filme motiva questionamentos do tipo: "Por que continuo a assistir isso?". Mas, para quem já chegou até aqui, por que não ver o episódio final, Ascendente, marcado para junho de 2017?
(Fonte: Veja.com)
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