Transformar em filme uma obra literária presente no imaginário de boa parte do público é uma tarefa audaz. Não à toa, o diretor Carlo Milani classificou como "um risco" a adaptação de O Escaravelho do Diabo, clássico da literatura infantojuvenil que passou a fazer parte da Coleção Vaga-Lume em 1972 e, hoje, está em sua 27ª edição. Além disso, a obra de Lúcia Machado de Almeida é um suspense, gênero pouco comum no cinema nacional. Para enfrentar o desafio, o cineasta se valeu de um protagonista jovem, um enredo descomplicado e o equilíbrio entre cenas violentas e cômicas. O resultado é um longa que mantém o tom jovial do livro e que deve interessar principalmente aos adolescentes - a classificação indicativa da produção, em cartaz desde quinta, é de 12 anos.
A história se passa na pequena cidade interiorana Vale das Flores. No início do filme, o público é apresentado a Alberto, de 13 anos, vivido pelo estreante Thiago Rosseti (no texto de Lúcia, esse personagem é um estudante de medicina de 22 anos). Entre uma rotina preguiçosa na escola e uma paixonite adolescente, o menino convive com o irmão mais velho, Hugo (Cirillo Luna), um universitário fissurado por motos. Certo dia, Hugo - que é ruivo - recebe em casa uma caixa com um escaravelho dentro e, dias depois, é brutalmente morto.
É neste ponto em que o caminho de Alberto se cruza com o do delegado Pimentel, personagem de Marcos Caruso. O menino, decidido a resolver o mistério da morte do irmão, passa a ajudar o oficial nas investigações. Com o tempo, a cidade de Vale das Flores registra novos assassinatos, e o garoto e o delegado descobrem o que há em comum entre todos os crimes: as vítimas são ruivas e invariavelmente recebem o escaravelho antes de serem mortas.
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Com a entrada de Caruso em cena, o filme ganha humor, ritmo e prende a atenção do público. O delegado é o personagem mais interessante da trama, já que consegue proporcionar momentos divertidos mesmo sendo um profissional em fim de carreira que enfrenta problemas de memória. Pimentel acaba se tornando mais importante nas investigações - e na história - do que o menino Alberto, o que faz bem para o longa, dada a excelente atuação de Caruso.
Além dos momentos de humor, o filme lança mão de outros artifícios para aliviar a violência da trama. As cenas dos assassinatos, por exemplo, passam rápido demais para serem algo chocante ou focam em algum detalhe da vítima. Além disso, o longa aborda, embora com certa superficialidade, temas alheios aos assassinatos que tiram o foco do suspense e atualizam a narrativa para os dias atuais, caso de assuntos como o bullying, por exemplo.
Mesmo se baseando em uma obra literária de sucesso, O Escaravelho do Diabo não é um filme marcante, embora tenha bons momentos. Seu enredo é simples, o mistério é solucionado sem grandes conflitos pelo público e os personagens são um tanto caricatos (o padre; o jornalista; o bancário; a artista). Mesmo assim, o longa traz um frescor ao cinema nacional por fugir de dramas adultos ou comédias de grande bilheteria, e pode - por que não? - puxar a fila de outras possíveis adaptações de antigas histórias infantojuvenis.
(Fonte: Veja.com)
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