A chegada das indústrias de processamento de eucalipto e os vastos hectares de florestas plantadas já resultaram em aumento do estoque de empregos formais na região conhecida como Vale da Celulose. Conforme dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), na comparação entre 2023 e 2024, o estoque de empregos formais aumentou em 5,6 mil postos de trabalho.
Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do MTE, apontam um avanço significativo do estoque de empregos com carteira assinada em praticamente todos os municípios da região. Em Inocência, por exemplo, onde foram iniciadas as obras da megafábrica da Arauco, o número de trabalhadores formais quase dobrou.
Em 2023, o estoque de empregos formais da cidade era de 1.553 postos, enquanto o ano passado registrou 3.076 trabalhadores com carteira assinada, representando um aumento de 98,06%. Esse crescimento é expressivo, considerando que a população do município é de 8.404 pessoas, conforme os dados do Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O mestre em Economia Eugênio Pavão explica que a implantação de indústrias de celulose tem um impacto significativo na economia de MS com a contratação de funcionários de todos os níveis e em todas as fases do empreendimento.
“O conglomerado impacta toda a economia local, com rendimentos sobre a terra [aluguéis, construção, arrendamento], estimula o comércio, serviços, demandando grande contingente de força de trabalho”, analisa e completa.
“Com a construção de plantas industriais gigantescas, a região em questão está sendo contemplada com um conglomerado exportador. E além de trabalhadores na construção, são contratados para a operação das indústrias”, detalha.
No município de Ribas do Rio Pardo, houve uma grande expansão do número de trabalhadores na fase de construção da indústria da Suzano. Com a inauguração da fábrica, no ano passado, houve uma redução natural dos postos de trabalho. O estoque formal de empregados passou de 6.785 em 2020 para 15.589 no auge da construção e fechou com 11.859 vagas com carteira assinada no ano passado.
“São empregados na segunda fase um contingente de trabalhadores para atuarem na área externa, nas florestas, e na unidade industrial, com pessoal de nível médio, superior e auxiliares. Enquanto estiver implantando [a indústria], o impacto é maior, reduzindo na fase operacional para pessoal diretamente ligado ao setor”, ressalta Pavão.
O número de trabalhadores com carteira assinada aumentou em todas as outras cidades que fazem parte do Vale da Celulose: Água Clara, Aparecida do Taboado, Bataguassu, Brasilândia, Inocência, Paranaíba, Ribas do Rio Pardo, Santa Rita do Pardo, Selvíria e Três Lagoas.
As cidades com os maiores crescimentos no estoque de vagas formais foram Três Lagoas, com 1.787 registros a mais, e Aparecida do Taboado, com 1.302.
Mato Grosso do Sul já é reconhecido nacionalmente por seu Vale da Celulose, tendo 24% da produção nacional da commodity, a segunda maior área cultivada de eucalipto e o primeiro lugar na produção de madeira em tora para papel e celulose. Também é vice-líder em área plantada com árvores, ficando atrás apenas de Minas Gerais.
A cadeia produtiva florestal em MS conta com quatro linhas de produção em três fábricas de celulose em operação, já tendo sido anunciada a quarta fábrica (Arauco) e confirmada a quinta (Bracell). Conforme publicado pelo Correio do Estado na edição desta sexta-feira, a segunda unidade da Bracell, em Bataguassu, será a sexta indústria a ser construída no Estado e a sétima linha em operação.
Estão em operação atualmente a Eldorado Celulose e a Suzano em Três Lagoas, além da unidade da Suzano inaugurada no ano passado em Ribas do Rio Pardo, que é atualmente a maior fábrica do mundo.
A reportagem do Correio do Estado adiantou em setembro do ano passado que a Arauco anunciou a expansão de sua capacidade de produção e deve se tornar a maior fábrica de celulose do mundo. A empresa do grupo chileno informou o aumento da capacidade produtiva da planta de Inocência, saindo dos iniciais 2,5 milhões de toneladas para 3,5 milhões de toneladas de fibra de eucalipto por ano.
Em novembro do ano passado, durante o Fórum Empresarial entre Brasil e Indonésia, no Rio de Janeiro, o governo de MS se reuniu com a Bracell, que confirmou a construção de uma fábrica de celulose em Água Clara.
Com mais esse aporte bilionário, o Estado estima a criação de 100 mil vagas de emprego na cadeia da celulose até 2032. “A previsão é de que até 2032 sejam gerados mais de 100 mil empregos diretos e indiretos nesses municípios, o que pressionará tanto a infraestrutura para atendimento básico em saúde e educação quanto aumentará muito a demanda por moradias”, ressaltou o titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck.
Em outubro do ano passado, conforme adiantou o Correio do Estado, o presidente da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), Paulo Hartung, afirmou que mais de 70% dos R$ 105 bilhões de investimentos previstos no setor de celulose para todo o Brasil serão realizados em território sul-mato-grossense. São quase R$ 75 bilhões de investimentos nos próximos três anos no Estado.
“Esses impactos vão fazer a economia crescer e estimular a arrecadação, demandando mais pessoal, de vários níveis”, finaliza Pavão.
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