No primeiro dia da visita oficial a Israel, o presidente Jair Bolsonaroanunciou neste domingo (31), após se reunir com o premiê Benjamin Netanyahu, a abertura de um escritório comercial do governo brasileiro em Jerusalém, cidade considerada sagrada por cristãos, judeus e muçulmanos e que não é reconhecida internacionalmente como capital israelense.
A abertura do escritório em Jerusalém é uma saída diplomática para o embaraço gerado com países árabes após o presidente ter manifestado publicamente logo após ser eleito a intenção de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, a exemplo do que fez o presidente norte-americano Donald Trump.
Israel considera Jerusalém a "capital eterna e indivisível" do país, mas os palestinos não aceitam e reivindicam Jerusalém Oriental como capital de um futuro Estado palestino.
O eventual reconhecimento por parte do governo brasileiro de Jerusalém como capital de Israel, e também a eventual mudança da embaixada, suscitou o receio de retaliações comerciais de países árabes, grandes compradores de carne bovina e de frango do Brasil.
O recuo de Bolsonaro em relação à transferência da embaixada se deu após ponderações da ala militar do governo e de ruralistas de que a medida poderia gerar um prejuízo bilionário para a economia brasileira.
Na última quinta-feira (28), ao ser perguntado sobre a mudança da embaixada brasileira, Bolsonaro disse que o presidente norte-americano Donald Trump demorou nove meses para tomar a decisão.“O Trump levou nove meses para decidir, para dar a palavra final para que a embaixada fosse", declarou na ocasião.
Um dos principais aliados externos de Bolsonaro, o primeiro-ministro de Israel foi recepcionar o colega brasileiro no aeroporto de Tel Aviv, distinção que ele reservou a poucos chefes de Estado ao longo dos quatro mandatos em que está à frente do governo israelense. Do aeroporto, a comitiva brasileira se deslocou diretamente para Jerusalém.
Mais tarde, Bolsonaro e Netanyahu tiveram uma reunião de trabalho no gabinete do primeiro-ministro, na qual assinaram acordos bilaterais.
Ao final do encontro, chamando o premiê israelense de "irmão e amigo", o presidente anunciou, em Jerusalém, a instalação do escritório que, segundo ele, será encarregado da promoção de comércio, investimentos, tecnologia e inovação entre os dois países, subordinado à embaixada do Brasil em Tel Aviv.
"Agora há pouco, tomamos a decisão final, ouvindo o nosso general Augusto Heleno [ministro do Gabinete de Segurança Institucional], de abrir, em Jerusalém, um escritório de negócios voltado para ciência, tecnologia e inovação" (Jair Bolsonaro)
"Nosso casamento no dia de hoje trará muitos benefícios aos nossos povos. Estou muito feliz. Peço a Deus que continue nos iluminando para tomar muitas decisões", complementou o presidente, concluindo a declaração dizendo, em hebraico, "eu amo Israel".
Nas eleições convocadas para 9 de abril, é possível que Netanyahu, líder do partido de direita Likud, deixe o poder após uma década como primeiro-ministro.
O parlamento de Israel aprovou a própria dissolução em dezembro, antecipando a votação que deveria ocorrer até novembro de 2019. A convocação de eleições foi interpretada como uma manobra do premiê contra desdobramentos das denúncias de corrupção. Se for reeleito pela quinta vez, Netanyahu vai superar o recorde de permanência no cargo do fundador do Estado de Israel, David Ben-Gurion.
A imprensa local aponta que a visita do líder brasileiro tem sido usada para "impulsionar" a campanha de Netanyahu, destacando que o premiê faz da agenda oportunidade para mostrar seu poder de influência junto ao Brasil que, até então, era visto como pró-Palestina e às vezes até mesmo pró-Irã, de acordo com veículos de mídia israelense.
Em uma declaração à imprensa logo após a reunião de trabalho com Bolsonaro, Netanyahu elogiou o colega brasileiro – a quem também chamou de amigo –, disse que considera o Brasil "uma das grande potências mundiais" e lembrou o papel do governo brasileiro na criação do Estado de Israel.
Mais tarde, em outro pronunciamento à imprensa em Jerusalém, Benjamin Netanyahu agradeceu a decisão de Bolsonaro de abrir o escritório comercial na cidade sagrada e disse que esse pode ser o primeiro passo para, no futuro, o Brasil transferir a embaixada.
"Abençoo essa sua decisão de abrir um escritório de comércio, tecnologia e inovação, de representação em Jerusalém", disse o premiê sob os olhares de Bolsonaro.
"E vou contar um segredo a vocês: é o primeiro passo para quem sabe um dia chegar à transferência da embaixada do Brasil para Jerusalém. Sejam bem-vindos a Jerusalém, capital do Estado de Israel". (Benjamin Netanyahu)
Além da abertura do escritório comercial em Jerusalém, o presidente Bolsonaro também anunciou neste domingo a assinatura de seis acordos com o governo israelense.
O primeiro trata de entendimentos para cooperação em Ciência e Tecnologia, com o objetivo, de acordo com o Itamaraty, de "desenvolver, facilitar e maximizar a cooperação entre instituições científicas e tecnológicas de ambos os países com base nas prioridades nacionais no campo de C&T e nos princípios de igualdade, reciprocidade e benefício mútuo, e de acordo com as leis nacionais".
Também foi assinado um acordo sobre segurança pública. Outro ato trata de entendimentos sobre cooperação em questões relacionadas à defesa para "promover a cooperação entre as partes".
Um acordo sobre serviços aéreos, para estabelecer e "explorar serviços aéreos" também foi firmado, além de um memorando de entendimentos, entre o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e o governo israelense na área de cibersegurança.
O último ato assinado neste domingo por Bolsonaro e Netanyahu é um plano de cooperação na área de saúde e medicina até 2022. O governo informou, até o momento, que o objetivo é permitir a cooperação entre os ministério da Saúde de Brasil e Israel.
O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Marcos Montes, informou que a titular da pasta, Teresa Cristina, vai oferecer um jantar a embaixadores de países árabes. O objetivo é estreitar relações e afastar a possibilidade de retaliações comerciais dessas nações - que são grandes compradoras de carne bovina e de frango do Brasil.
A ideia inicial é que ocorram reuniões com grupos pequenos de países árabes, e não todos mundo de uma única vez. Segundo interlocutores do Ministério da Agricultura, representantes da liga árabe têm participado de reuniões na pasta desde o início do governo.
*G1
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