A comunicação no ambiente corporativo vai além das palavras. A forma como os profissionais se comportam durante reuniões, entrevistas ou interações cotidianas transmite mensagens que impactam diretamente como são percebidos por colegas, equipe, líderes e clientes. Gestos, expressões faciais, postura e contato visual, elementos centrais da linguagem corporal, influenciam relações, tomadas de decisão e até oportunidades de crescimento nas empresas.
Boa parte da comunicação humana acontece de forma não verbal. No trabalho, isso pode reforçar ou contrariar o que está sendo dito verbalmente. Um profissional com postura ereta, contato visual constante e gestos abertos tende a passar mais segurança. Por outro lado, braços cruzados, inquietação ou olhar desviado podem ser interpretados como sinais de desconforto ou insegurança, mesmo que o conteúdo falado seja adequado.
Em processos seletivos, esses sinais também são considerados. Segundo Polyana Macedo, Gerente Executiva de RPO no ManpowerGroup Brasil, o comportamento não verbal pode influenciar a percepção do recrutador. “Mesmo que o currículo esteja bem estruturado e a experiência compatível, o comportamento do candidato durante a conversa pode pesar na avaliação final”, afirma. Para ela, a coerência entre o que é dito e o que é demonstrado é fundamental. “Se alguém diz que lida bem com pressão, mas demonstra tensão diante de perguntas mais complexas, isso pode gerar dúvidas sobre a veracidade da resposta”, explica.
Polyana reforça que o objetivo não é julgar com base em impressões superficiais, mas interpretar sinais que ajudam a formar uma visão mais completa do perfil profissional. “O corpo fala, mesmo sem intenção. Quando a pessoa desenvolve consciência sobre isso, a comunicação tende a se tornar mais clara, mais direta e menos sujeita a ruídos”, destaca.
A linguagem corporal também influencia no dia a dia das equipes. Em cargos de liderança, ela pode afetar o engajamento e o clima organizacional. “Líderes que mantêm uma postura aberta, fazem contato visual com frequência e demonstram escuta ativa costumam ser percebidos como mais acessíveis e confiáveis”, afirma Polyana. Já posturas fechadas, expressão neutra ou gestos apressados podem criar barreiras.
Com o avanço do trabalho remoto e a popularização das reuniões por vídeo, a linguagem corporal ganhou novos contornos. Mesmo com a mediação da tela, os sinais não verbais continuam relevantes. “É um erro pensar que nas videochamadas o corpo não importa. Expressão facial, tom de voz, postura e até a velocidade da fala seguem transmitindo mensagens importantes”, diz Polyana. Ela recomenda práticas simples, como manter a câmera ligada, olhar para a lente ao falar e demonstrar atenção ativa durante a conversa.
Além da comunicação cotidiana, a linguagem corporal também esbarra no desempenho em momentos decisivos da carreira. Apresentações, reuniões e processos de promoção interna são situações em que o alinhamento entre o que se diz e o que se expressa fisicamente pode fazer diferença. “Profissionais que conseguem comunicar com coerência verbal e não verbal tendem a ser mais ouvidos, lembrados e considerados para novos desafios”, afirma Polyana. “Esse alinhamento não exige uma performance perfeita, mas sim consciência e autenticidade”.
Segundo a especialista, a linguagem corporal ainda reflete estados emocionais, mesmo quando eles não são verbalizados. Ansiedade, desconforto ou tensão costumam se manifestar em pequenos gestos ou mudanças de postura. “Por isso, o autoconhecimento é tão importante. Observar como você reage fisicamente em determinadas situações e reconhecer esses padrões ajuda a construir uma comunicação mais equilibrada e segura”, explica.
O desenvolvimento dessa consciência pode ser feito com estratégias acessíveis. Polyana recomenda ações práticas, como gravar apresentações para assistir depois, pedir feedback sobre a postura em reuniões ou praticar frente ao espelho. “São exercícios simples, mas eficazes para quem quer entender melhor sua linguagem corporal e fazer ajustes quando necessário”, afirma. Ela reforça que o objetivo não é disfarçar reações, mas alinhar o que se pensa, sente e transmite com autenticidade.
Outro aspecto apontado pela especialista é o fator cultural. Em equipes multiculturais, é importante considerar que gestos e expressões podem ter significados diferentes. “O contato visual, por exemplo, é interpretado como sinal de respeito em algumas culturas, mas pode ser visto como invasivo em outras. Ter essa sensibilidade é fundamental em ambientes diversos”, afirma Polyana.
“Saber o que seu corpo comunica, e como isso pode ser interpretado pelas outras pessoas, é um diferencial em qualquer etapa da carreira”, conclui Polyana Macedo.
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