O Brasil vive uma transformação no varejo infantil: modelos de moda circular vêm estruturando um novo segmento no mercado, combinando sustentabilidade, economia colaborativa e geração de renda local. Redes como a Cresci e Perdi, fundada em 2014 no interior de São Paulo, criaram processos padronizados para compra e venda de roupas, calçados, brinquedos e acessórios usados, profissionalizando um setor antes restrito a brechós informais e trocas familiares. Hoje, a rede ultrapassou a marca de 600 unidades, consolidando a moda infantil reutilizável como destaque no franchising nacional.
Nos últimos anos, o setor de franquias no país cresceu cerca de 13% em faturamento, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), enquanto modelos ligados à economia circular vêm ganhando relevância junto aos consumidores conscientes. Globalmente, a indústria da moda é responsável por cerca de 10% das emissões de gases de efeito estufa e gera aproximadamente 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis por ano, dos quais menos de 1% é reciclado em novas roupas, de acordo com análises da Deloitte e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP). No Brasil, iniciativas como a Cresci e Perdi ampliam o ciclo de vida dos têxteis, descentralizam o abastecimento e influenciam economias locais.
Uma virada de paradigma no consumo de moda infantil
Estudos do Sebrae indicam que, por muitos anos, o mercado de roupas infantis usadas no Brasil operou de forma predominantemente informal — por meio de brechós domésticos, bazares comunitários ou trocas entre famílias — sem padronização e com alcance restrito.
Dados da própria instituição mostram que entre 2010 e 2015 houve um crescimento de 210% dos brechós e da venda de roupas usadas no país. Entre os primeiros semestres de 2020 e 2021, o número de estabelecimentos desse segmento aumentou em 48,5%.
Enxergando no consumo infantil um setor estratégico para estruturar cadeias sustentáveis de varejo, a Cresci e Perdi desempenhou um papel central nesse processo. Fundada em São Paulo, a rede criou um modelo que levou curadoria e padronização ao fluxo de compra e venda de roupas usadas. Ao mesmo tempo, introduziu processos como categorização por tamanho e estação, protocolos para triagem e estratégias visuais que fizeram as lojas se assemelharem ao varejo tradicional.
“Estruturamos processos que antes eram completamente inexistentes no segmento de moda circular infantil. Hoje, geramos um impacto na economia circular que conecta famílias, empreendedores e consumidores de forma colaborativa”, afirma Saulo Alves, co-fundador da Cresci e Perdi.
Dados que destacam a relevância do modelo
Além de ocupar um espaço importante dentro do mercado de franquias, o modelo estruturado pela marca prova, com números, que a moda circular infantil é uma alternativa viável e escalável no varejo brasileiro:
Os dados apresentados descrevem a condição da moda circular infantil no que se refere à atração de investidores e sua relação com aspectos sociais e ambientais.
Descentralização que fomenta economias locais
O formato descentralizado é um dos aspectos mais interessantes na atuação da Cresci e Perdi. Cada unidade franqueada opera como um hub local de economia circular, comprando roupas diretamente da comunidade e transformando-as em itens acessíveis para outros consumidores da mesma região.
Diferente de franquias tradicionais, em que os produtos são fabricados centralmente e distribuídos para as lojas, na rede o estoque é 100% obtido localmente. Esse modelo reduz custos com transporte e logística, ao mesmo tempo que evita desperdícios, já que cada unidade se adapta às necessidades e preferências regionais.
Como destaca Alan, ex-bancário que se tornou franqueado no Paraná: “A configuração do modelo conecta empreendedores aos consumidores locais".
Casos que ilustram transformação econômica e sustentabilidade social
O modelo também fomentou o ingresso de empreendedores de diferentes origens e trajetórias no mercado. O impacto vai além do faturamento, conectando propósito pessoal e oportunidade de crescimento profissional:
Os relatos apresentados indicam a viabilidade econômica e a acessibilidade da moda circular infantil para empreendedores que adaptam o modelo às especificidades locais.
Desafios e projeções futuras
“Implementar um modelo de economia circular infantil sob uma lógica descentralizada traz desafios complexos, como garantir a padronização da experiência de compra em lojas que operam em realidades regionais distintas. Contudo, os esforços para manter treinamentos contínuos, protocolos claros e o acompanhamento próximo dos franqueados mitigam esses desafios”, complementa Saulo Alves, co-fundador da rede.
As projeções para o futuro do setor são promissoras: segundo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), modelos baseados na economia circular têm potencial de gerar milhões de empregos no mundo até 2030, enquanto auxiliam na redução de impactos ambientais.
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