
A Hidrovia do Rio Paraguai vive seu ano mais expressivo da última década. Entre janeiro e setembro, o corredor aquaviário alcançou 7,6 milhões de toneladas transportadas, um crescimento de 173% em relação a 2024, quando o baixo nível do rio comprometeu a navegação. Com águas acima de 1,5 metro em Ladário durante quase todo o período, o fluxo de cargas retomou força e recolocou a hidrovia Paraguai-Paraná no centro do planejamento logístico nacional.
O avanço é diretamente influenciado pela explosão na extração de minério de ferro em Corumbá e Ladário. Das 7,6 milhões de toneladas transportadas neste ano, 7 milhões foram do mineral. O restante se dividiu entre soja, carga granéis, ferro, aço e carvão vegetal. O porto Gregório Curvo, operado pela LHG Mining em Porto Esperança, liderou o ranking com 4,2 milhões de toneladas movimentadas, seguido pelo terminal Vetorial Logística, com 1,8 milhão, e pelo porto da Granel Química, em Ladário, que registrou 1,2 milhão de toneladas. Toda essa produção teve como destino o mercado internacional, especialmente a China.
O avanço da navegação reacendeu o debate político em Brasília e nos estados. Em visita a Cáceres em outubro, o vice-presidente Geraldo Alckmin voltou a defender a reativação do Tramo Norte, trecho entre Cáceres e Corumbá que permanece interditado por questões ambientais. Para ele, a hidrovia é peça estratégica para reduzir custos logísticos e integrar diferentes modais de transporte. O tema também entrou na pauta do Ministério do Planejamento dentro do projeto Rotas de Integração Sul-Americana, que inclui a conexão da Hidrovia Paraguai-Paraná à Rota Bioceânica.
Ao mesmo tempo, o governo avança na tentativa de conceder a hidrovia à iniciativa privada. O processo está sob análise e depende de avaliação do Tribunal de Contas da União. A expectativa inicial era realizar a licitação ainda este ano, mas o cronograma deve ser empurrado para 2026.
A expansão portuária também ganha ritmo. A Antaq autorizou o prosseguimento do contrato de adesão entre o Ministério de Portos e Aeroportos e a empresa PTP Brasil, de Campo Grande, para instalação de um terminal privado em Porto Murtinho. O TUP ocupará uma área superior a 100 mil metros quadrados na margem esquerda do Rio Paraguai e aguarda análise final do governo federal. O projeto reforça o interesse crescente na movimentação de soja na região: 374 mil toneladas passaram pelo município apenas entre janeiro e setembro.
Com recordes sucessivos, novos investimentos e pressão política crescente, a Hidrovia do Paraguai consolida-se como uma das rotas logísticas mais importantes da América do Sul e caminha para ser um vetor de transformação econômica no Centro-Oeste. Quando as condições de navegação permitem, os números mostram um potencial que por muito tempo esteve subaproveitado.
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