Senadores da Comissão de Assunto Econômicos (CAE) do Senado pediram vista coletiva ao projeto que regulamenta casos de desistência de imóvel adquirido na planta, o chamado distrato. O projeto (PLC 68/2018) volta à análise da CAE na próxima semana. O relator, senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), previa a votação da matéria antes do recesso.
A Líder do MDB no Senado, Simone Tebet (MS) questionou a pressa para a votação e disse que alguns itens precisam ser aprimorados. Na opinião da parlamentar, "o Senado não pode ter pressa para votar um projeto que pode impactar o pai de família, sem ajustes importantes no texto. Estamos falando de algo que mexe com a vida de qualquer cidadão que queira, no futuro, assinar um contrato com imobiliária para ter o sonho da casa própria realizado, não é só a questão da especulação”, afirmou.
Simone observou que o projeto não diferencia especuladores imobiliários de consumidores que compram o imóvel para morar, mas que podem sofrem com o desemprego ou outra razão que dificulte a manutenção do pagamento após firmar o contrato. “O projeto não faz a separação da desistência motivada da imotivada, não diferencia o especulador do mutuário de boa fé”, criticou.
Para a senadora, “o projeto está olhando mais para as incorporadoras que para os mutuários”. Ela lembrou que a maior parte dos compradores de imóveis na planta são de classe média, média baixa e até pessoas de baixa renda, no caso de lotes.
Ela questionou três pontos que precisariam ser melhor analisados. O primeiro é a isenção de multa para as incorporadoras em caso de atraso de até 180 dias para a entrega do imóvel ao consumidor. O segundo ponto, diz respeito à falta de critério fixo para penalizar o comprador em caso de desistência do negócio. Simone lembrou que a multa hoje varia de 10% a 25%, à critério do juiz. Para ela, ao prever multa máxima de 50%, o projeto continuará deixando a decisão sob a responsabilidade do juiz. E, por fim, ela questiona a multa em caso de desistência de aquisição de lote, sem levar em conta o motivo, “que pode ser por desemprego ou necessidade”.
Para Simone, o projeto é relevante, mas mexe com a classe média, o cidadão humilde e não apenas com o especulador. “Podemos estar querendo atender um segmento importante que vai gerar emprego, combater os especuladores, mas também temos que dar uma tranquilidade ao cidadão e aprovar um projeto que realmente atenda o interesse público e traga segurança jurídica”, disse ao pedir vistas ao projeto na CAE.
O que diz o projeto
O projeto permite que as construtoras fiquem com até 50% dos valores pagos pelo consumidor em caso de desistência, quando o empreendimento estiver sujeito ao regime de patrimônio de afetação, situação na qual o montante pago à incorporadora só poderá ser utilizado no próprio empreendimento. Em caso de não afetação, o comprador que desistir do imóvel na planta terá direito à restituição das quantias pagas ao incorporador, descontados o valor da multa de, no máximo, 25% da quantia já paga. A comissão de corretagem também será cobrada em ambos os casos. Atualmente, o Judiciário costuma decidir entre 10% e 25% para o valor da multa.
A proposta ainda prevê a isenção de ônus para a incorporadora que atrasar a entrega do imóvel em até 180 dias. Ultrapassado esse prazo, o comprador poderá desistir do negócio e receber a restituição total do valor já pago, além da multa prevista em contrato. Se quiser manter o negócio, terá direito a multa de 1% do valor já pago por mês de atraso.
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