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Funcionalismo acentua desigualdade de renda

03/12/2017 às 13h14
Por: Tribuna Popular
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A desigualdade entre Estados fica evidente quando se olha para as classes médias. Os brasileiros mais ricos são ricos em qualquer lugar do país, e o mesmo vale para os mais pobres. Mas fazer parte da classe média trabalhadora pode jogar o indivíduo para o grupo dos mais pobres do Brasil, se ele estiver em Alagoas, ou colocá-lo entre os mais ricos caso ele esteja no Distrito Federal.

Há várias razões a explicar a disparidade, mas os salários no serviço público são determinantes, aponta estudo divulgado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).

Conduzido pelos economistas Carlos Góes e Izabela Karpowicz, o texto "Desigualdade no Brasil, uma Perspectiva Regional" não reflete a posição do Fundo.

Nos últimos anos, essa variação de renda entre as classes médias das diferentes regiões caiu. Mas, embora tenha ficado mais próximo ser da classe média em São Paulo ou no Maranhão, a assimetria persiste, bastante marcada pelos salários da elite do funcionalismo.

Entre 2004 e 2015, os salários do setor privado subiram, em média, 20%, já descontada a inflação. No setor público, a alta superou 40%.

Não fosse o avanço dos salários desse grupo, é possível dizer que o declínio na desigualdade regional teria sido maior no período analisado.

Não por acaso, o Distrito Federal tem renda média quase 20% acima da nacional -além de ser a unidade mais desigual do país.

Para Góes, é curioso que em toda eleição se busque contrapor de forma simplista o Nordeste com São Paulo. A realidade do país é bem mais complexa, diz. "O Brasil é um país com uma Bélgica e uma Índia em todos os Estados. Já as classes médias estaduais divergem muito e há uma ilha da fantasia nos bairros ricos do Planalto Central", diz ele ao se referir ao termo "Belíndia", criado pelo economista Edmar Bacha na década de 1970.

Para Karpowicz, seria bom para a redução da disparidade equiparar as regras previdenciárias do setor privado e do funcionalismo.

O estudo inova ao comparar a desigualdade entre os Estados. Com base na Pnad (pesquisa do IBGE), o cotejo só é possível porque é ajustado pelo custo de vida.

Quanto mais rico, mais caro o Estado, como visto na comparação do poder de compra de R$ 100 por região.
Karpowicz faz parte da missão do FMI para o Brasil. Góes deixou o FMI em abril e está na SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos). De acordo com ela, o Fundo deve incluir salário de servidores em estudo futuro.

EFEITOS

O Amapá foi o único Estado em que a desigualdade ficou estável e se destaca também por se sustentar como outra exceção: pode ser considerado um Estado caro, com renda baixa.

Uma família de classe média com quatro pessoas do Estado tinha renda total de R$ 2.000 ao mês em 2014.
Em Santa Catarina, lugar menos desigual do país e considerado relativamente barato, a renda total era o dobro.

Com uma renda familiar de R$ 2.300, Alagoas e Piauí estão no grupo de Estados relativamente pobres e baratos. Foi nesses Estados que a desigualdade caiu mais.

Os pesquisadores lembram que os efeitos da crise econômica não foram capturados porque a pesquisa só vai até 2014. Ainda assim, dizem ambos, é importante conhecer as variáveis que afetaram a desigualdade nos últimos anos para que, em momentos como o atual, em que o ajuste nas contas do governo virou um dos problema mais discutidos do país, seja possível preservar os ganhos obtidos.

Segundo Góes, a questão fiscal precisa ser resolvida porque ela é o fundamento para estabilidade macroeconômica do país. "Considerando a necessidade de reformas e de limitar os gastos, temos que fazer escolhas", diz ele. "O melhor é que elas não contribuam para desigualdade."

Já Karpowicz admite que, dados os resultados da pesquisa e a necessidade de consolidação fiscal, o FMI está olhando como os salários dos servidores podem contribuir para atingir esses objeti- vos de um modo equitativo.

*Folhapress

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