A Polícia Federal (PF) apreendeu US$ 171.800 mil (equivalente a cerca de R$ 870 mil pela cotação atual) durante a operação desta sexta-feira (20) contra servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) suspeitos de uso ilegal de um sistema de espionagem.
Adversários do presidente Bolsonaro e jornalistas estariam entre os alvos do monitoramento ilegal, segundo a investigação.
O montante foi apreendido nos endereços dos alvos e será periciado. A PF investiga a origem do dinheiro para saber se há relação com o inquérito.
Dois servidores da Abin foram presos e cinco foram afastados durante operação da Polícia Federal realizada nesta sexta-feira. O grupo usava sistema de geolocalização para monitorar localização e ligações telefônicas.
Policiais, advogados, juízes e integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) também teriam sido espionados.
O programa espião em questão é o FirstMile. A ferramenta israelense teria sido utilizada de forma irregular entre dezembro de 2018 e 2021. Mas com mais intensidade neste último ano, pouco antes da pré-campanha eleitoral.
Em nota, a Abin afirma “o contrato 567/2018, de caráter sigiloso, teve início em 26 de dezembro de 2018 e foi encerrado em 8 de maio de 2021.” O diretor da Abin nesse período era Alexandre Ramagem, hoje deputado mesmo partido do ex-presidente Bolsonaro, o PL.
A Agência Brasileira de Inteligência é o órgão responsável por produzir conteúdos que são repassados ao presidente da República para auxiliar em tomadas de decisões.
Alertas, ameaças e boletins são produzidos e enviados de forma direta.
O uso do programa espião de forma irregular foi revelado em março pelo jornal O Globo, o que motivou a abertura de inquérito na Diretoria de Inteligência da PF.
Cerca de 10 mil proprietários de celulares, por ano, podem ter sido monitorados sem a autorização judicial, segundo a Polícia Federal.
A ferramenta israelense solicitava que fosse digitado o número do contato e, a partir disso, poderia ser acompanhado em um mapa, com as redes 2G, 3G e 4G, a última localização do dono do aparelho.
O programa permitia que fosse rastreado o paradeiro de alguém com os dados que eram transferidos do celular para torres de telecomunicações instaladas em diferentes regiões. Com essas informações, era possível ver o histórico de deslocamentos e criar “alertas em tempo real” de movimentações em diferentes endereços.
Segundo as investigações, os dois servidores da Abin — que mantinham seus cargos até hoje — chegaram a usar o conhecimento sobre o uso indevido como meio de coerção para evitar demissão em processo administrativo disciplinar.
A CNN também procurou o ex-diretor da Abin e Alexandre Ramagem e a defesa do ex-presidente Bolsonaro, mas ainda não teve retorno.
A Abin emitiu uma nota oficial e afirmou que foi instaurada sindicância investigativa em 21 de março de 2023. Veja a íntegra do texto:
A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) informa que, em 23 de fevereiro de 2023, a Corregedoria-Geral da ABIN concluiu Correição Extraordinária para verificar a regularidade do uso de sistema de geolocalização adquirido pelo órgão em dezembro de 2018.
A partir das conclusões dessa correição, foi instaurada sindicância investigativa em 21 de março de 2023. Desde então, as informações apuradas nessa sindicância interna vêm sendo repassadas pela ABIN para os órgãos competentes, como Polícia Federal e Supremo Tribunal Federal.
Todas as requisições da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal foram integralmente atendidas pela ABIN. A Agência colaborou com as autoridades competentes desde o início das apurações.
A ABIN vem cumprindo as decisões judiciais, incluindo as expedidas na manhã desta sexta-feira (20). Foram afastados cautelarmente os servidores investigados.
A Agência reitera que a ferramenta deixou de ser utilizada em maio de 2021. A atual gestão e os servidores da ABIN reafirmam o compromisso com a legalidade e o Estado Democrático de Direito.
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